Francisca Carvalho a partir de Eugénia Mendes:
Olho a rua deserta
Tudo parado.
Abanam folhas vozes
Pássaros
Ninguém entra.
No portão semi-aberto a sombra do seu movimento – a companhia.
O sol brilha
Um bando voa recto em círculos.
Rua recta em largo círculo – início ou fim.
Tejo desagua no círculo em mar.
Rua recta Mar em círculo,
Do início ao fim da viagem
Partida.
Direcção à partida
Direcção partida
Definida apressada.
Filipa Rocha a partir de Eugénia Mendes:
Árvores, pássaros, carros
Escola com portão semi-aberto
Companhia e guarda ausente
Círculos Rectas
Início ou fim
Largo círculo
Rua recta
Ambos se podem ultrapassar
Viagem definida à partida
Sandra Chaves Costa a partir de Eugénia Mendes:
Círculo recto
Olho a rua
Olho o guarda
Olho um bando de pássaros em círculos e rectas
Rua recta de largos círculos
Alguém isolado passa apressado
Numa viagem definida à partida
Sofia Campilho a partir de Eugénia Mendes:
Olho, nem tudo abana nas árvores.
O barulho do portão que ninguém guarda.
A sombra ausente. Olho.
Recta, não sei, será que acaba no mar?
Cruzam-se no círculo, ambos.
Segue preso, definida à partida.
Ana Natividade a partir de Eugénia Mendes:
rua recta largo círculo
a rua no círculo
como o Tejo no mar deserto
isolado na viagem.
João Simões a partir de Eugénia Mendes:
olho o deserto desta noite
abanado pelo vento
do outro lado da rua
ao longe
o portão semiaberto
da cabine que esconde algo na sombra
as linhas metálicas dos eléctricos
reflectem
em círculos e rectas o sol que brilha
olho de relance para a rua
não sei se é o inicio ou o fim
liberto-me do cruzar do eléctrico
que segue a outro eléctrico
numa direcção definida à partida.
Valentina Arvela a partir de Eugénia Mendes:
Árvores, escola.
Círculos e rectas no mar, ambos se podem ultrapassar.
Olho ausente como carris cruzadas.
Viagem, presos à partida.
Susana Ayres a partir de Eugénia Mendes.
Deserto parado
com folhas paradas.
Cantam só os carros,
Pela porta da escola fechada
onde ninguém entra.
Nem a sombra do Sol
ausente.
Acima do sol e das rectas,
A rua em círculo tem fim!
E a rua recta? Desagua no mar
onde se cruzam os círculos
presos
Quando isolado – à partida,
Parado ao longe – à partida,
“nem tudo se encontra nas árvores”
e cruza-se então
o Mar.
Isabel Bento a partir de Eugénia Mendes:
Abanam as folhas das árvores por cima do portão semiaberto da escola fechada
Um bando de pássaros voa em círculos e rectas, como numa rua recta de largos círculos
Autocarros e carros cruzam-se, mas só o eléctrico segue preso nos carris
De quando em quando alguém passa numa direcção definida.
Flávia Germano Barra a partir de Eugénia Mendes:
Parado o sol
olho ausente
definido o circulo dos pássaros como carris também definidos
uma recta e outro pássaro em viagem, isolado e talvez semi-aberto
Cruzadas várias prisões
como numa partida fechada e um guarda único
como o Tejo eléctrico
e longe
e à partida
e definido numa cabine
isolado
semi-aberto
ultrapassado e à partida
Vicente Leite de Castro
Francisca Carvalho a partir de Filipa Pestana Rocha:
Exactamente criam-se os irmãos.
Quando os fios estão limpos
a corrente eléctrica passa e a vida é curta.
Os Pintores invocam uma ciência do visível à maneira natural.
Este silêncio faz-nos passar às coisas não descobertas.
O elogio do Defunto é elegante.
O orador identifica o elogio essencial da voz anónima
Torna possível a palavra.
Sandra Chaves Costa a partir de Filipa Pestana Rocha:
Espécie de irmãos
Todos sabemos que a vida é muito curta,
Sempre o soubemos!
Somos uma espécie de irmãos que não passam pelas palavras.
Não falam por palavras, mas por obras,
Que se comunicam entre elas.
O que se faz passar para a obra provém do olho e dirige-se ao olho!
Num discurso em organização,
Num elogio ao defunto.
Ideias e expressões raras.
Sofia Campilho a partir de Filipa Pestana Rocha:
Esse silêncio dá-se às palavras.
A corrente descarnada está presente.
Sempre souberam que não fala por palavras mas de coisas naturais, silenciosas.
A forma provém do olho.
É de facto, género de elogio que é possível, circunstancial do anónimo.
Raras.
Ana Natividade a partir de Filipa Pestana Rocha:
o silêncio cria irmãos.
nos fios descarnados
a corrente eléctrica
é muito curta
os pintores não falam por palavras,
à maneira das coisas naturais,
da ciência oculta do olho
o discurso é de facto escuro,
o defunto sucede-se elegante,
o orador identifica o elogio da voz anónima,
expressões raras do feliz autor.
João Simões a partir de Filipa Pestana Rocha:
silêncio, meu irmão sem palavras
és como os pintores, sem palavras
a vida é curta neste universo
cheio de formas não descobertas
Susana Ayres a partir de Filipa Pestana Rocha:
Cria, irmão mútuo,
passa-me pelos fios.
Passa pela coisa que sabemos curta,
traz-me o pictórico visível.
A tua ciência é silenciosa e eu confio
na tua descoberta.
O discurso genérico é defunto.
De maneira elegante se identifica
o primogénito anónimo
Feliz, e raro.
Eugénia Mendes a partir de Filipa Pestana Rocha:
Exactamente
Silêncio de irmãos
Sem palavras
A vida é muito curta
A corrente pode passar
Os pintores evocam
As formas não descobertas
O discurso escuro pede ao defunto
De uma forma elegante
A voz anónima
Impossível de qualquer palavra
Valentina Arvela a partir de Filipa Pestana Rocha:
Esse silêncio, dá-se comunicação , a corrente eléctrica pode passar.
Os pintores que não falam por números a todas, a propósito das formas a olho.
É um discurso mais ou menos elegante, circunstancial, de voz anónima.
O autor.
Acabei.
Isabel Bento a partir de Filipa Pestana Rocha:
Há outra forma de comunicação que não passa pelas palavras
Da Vinci com obras que hesitam no visível e com as quais se comunicou
Discurso, género, onde é pedida a voz anónima que torna possível toda e qualquer palavra.
Flávia Germano Barra a partir de Filipa Pestana Rocha:
Exactamente silêncio
só de fios feito, não sabido nem dito
As obras à maneira do universo cientifico dirigem-se ao olho
em discurso
em elogio
como o elegante defunto – evocação do autor
Francisca Carvalho a partir de Marta Roux:
Janela á noite
O reflexo bate no vidro.
Vidra o sol e os jardins.
Sapos que pirilampam.
Abelhas
Libelinhas
Ratos
alimentam-se na escada de serviço.
Uma nespereira e seu reflexo
à noite.
Luz do dia
Fim do dia.
Filipa Rocha a partir de Marta Roux:
Olhar na janela o meu reflexo
Preciso de silêncio
Os sapos cantam à noite
Mini morcegos na escada de serviço
Sinais do tempo
Um dia vai ter fim
Sandra Chaves Costa a partir de Marta Roux:
Noite abençoada
Ao olhar a janela à noite,
Vejo o meu reflexo e
um limoeiro que bate no vidro.
Vista abençoada!
Os sapos cantam à noite,
Os pirilampos visitam-me!
Há um reflexo melhorado à noite que falarei noutro tempo…
Tempo de passar nesta vida que há de ter um fim.
Sofia Campilho a partir de Marta Roux:
À noite vejo o reflexo que bate no vidro, onde os sapos de vez em quando me visitam.
Na nespereira, em pleno centro à luz do dia.
Susana Ayres a partir de Marta Roux:
Noite
Olho o reflexo do limoeiro diário,
Abençoo o sapo dos céus
e os pirilampos.
Amigos,
a nespereira de serviço
é magnífica! melhor
que qualquer sinal do tempo
a ultrapassar o fim.
Ana Natividade a partir de Marta Roux:
noite a olhar o limoeiro
nos jardins os sapos cantam
o reflexo a passar
a passar
João Simões a partir de Marta Roux:
noite… janela à noite
noite a descansar nas folhas do limoeiro
abençoada pelo voo dos pirilampos
estou rodeada pela natureza neste jardim
mágico, no centro da cidade
noite que passa
deixo-a passar
Eugénia Mendes a partir de Marta Roux:
Vejo reflexos nas folhas do limoeiro
Os sapos cantam à noite
E os pirilampos visitam-me
Estes rodeada pela natureza
Que me abençoa
Nesta roleta que terá um fim
Valentina Arvela a partir de Marta Roux:
Noite, vejo o meu reflexo que bate no vidro.
Bela vista onde os sapos, pirilampos, me visitam, gatos e até o rato.
Que bênção a minha, melhorada a luz do dia que terá um fim.
Isabel Bento a partir de Marta Roux:
Ao olhar a janela à noite oiço o meu reflexo
Sou abençoada pelo sol e pelos amigos pássaros e borboletas
Magnifica natureza no centro de Lisboa
Flávia Germano Barra a partir de Marta Roux:
O limoeiro batido na vista
assusta os sapos como sinal da diversidade do céu
Dos céus e das escadas – a graditão – reflexo do ser para a morte.
Vicente Leite de Castro
Francisca Carvalho a partir de Sofia Campilho:
Dois pássaros saem exagerados
da árvore ruína oculta.
Dançam e ondulam no tronco velho.
Querem lagoas e espelham a água eleita.
Um pássaro preto à frente dos outros.
Dia luminoso.
Árvore de pés e cabeça tombados em diagonal,
encostados à Eleita.
O centro do pleno era claro e não o vejo.
Paisagem indiferente ao herbário da peste.
Espero uma sombra em arco no chão.
Pássaros entram e
Uma brisa entra.
Susana Ayres a partir de Sofia Campilho:
Todos preferem aquela árvore,
A ruína dessa árvore.
Uma chinfrineira luminosa que se amarra à cabeça
mesmo antes que possam tombar para o lado.
Eleito: no enquadramento, eu não vejo o muro
mas folhas a chilrear indiferentemente.
Espero pelos pássaros em arco
e então, o tiro, atinge o chão.
Filipa Rocha a partir de Sofia Campilho:
O barulho de todos os pássaros juntos é imenso
Até no tronco velho eles andavam
Parece um espelho das sombras que desapareceram
Chinfrineira imensa
Praticamente não chego a ver a sombra da eleita
Para trás da ruína
Chilrear dos pássaros
Espero
Hoje não é um bom dia
Entra uma brisa pela janela
Sandra Chaves Costa a partir de Sofia Campilho:
Indiferente à peste
Dois são pequenos
Outro é ruína imensa
Um exagero de ruína oculta
Tronco velho, ruína onde anda
Quem quer a árvore eleita
Pássaro diferente dos outros
Numa chinfrineira imensa
Acompanhado das sombras
Totalmente à esquerda do enquadramento
Eu, claro, ao contrário da zona de sombra
Sol, sombra, ramos
Paisagem indiferente à peste
Espero!
Parece que os pássaros percebem
O tiro que entra como uma brisa pela janela.
Ana Natividade a partir de Sofia Campilho:
herbário da peste
dois pequenos pássaros na ruína oculta
os pássaros querem os pássaros
um pássaro preto na terra
árvores vazias
árvores luminosas com pés e cabeça
ouço-os no centro da sombra tombada para a esquerda
passa uma sombra de pássaro
uma carrinha
uma sombra em arco
um tiro
uma brisa pela janela
João Simões a partir de Sofia Campilho:
pequenos pássaros
na ruína vazia, ocultada
por grandes troncos de árvores sombrias
os pássaros chilreiam à volta da minha cabeça
na minha cabeça
a voz da sombra
espero por ela
espero pela sombra em arco no chão.
Eugénia Mendes a partir de Sofia Campilho:
Dois pássaros na ruína oculta
Dançam
Exageram
Dançam mais pássaros
As árvores vazias
Querem a sombra que desapareceu
Têm os pés amarrados
A ruína parou no chão
Não a vejo
A paisagem diferida peste
Um som de homem ao longe
Parece um tiro
E uma brisa entra pela janela
Valentina Arvela a partir de Sofia Campilho:
Pequenos pássaros, o barulho é intenso, vê-se uma ruína, agora as outras estão vazias da água na terra.
A vida dos pés, acompanhadas, tombadas à esquerda de um enquadramento para o centro do plano.
E não vejo folhas a abanar de peste, espero, ouço, espero, mais uma, ouço os meus olhos pela janela.
Flávia Germano Barra a partir de Sofia Campilho:
Pássaros em ruína – um exagero oculto e dançado – querem ser árvore e uma sombra preta à frente do chão.
A luz aos pés amarrada não se vê, porque se encosta à eleita
indiferente ao homem, e eu espero, um tiro pela janela. e eu espero.
Isabel Bento a partir de Sofia Campilho:
Dois pequenos pássaros aparecem e um outro sai da ruína oculta
Lagoas de água que parecem espelhos
Os pássaros só os oiço
Chilrear de muitos pássaros
Passam as sombras dos pássaros no chão, não os vejo
Entra uma brisa pela janela.
Francisca Carvalho a partir de Frederico Pratas:
Um homem de capuz e árvores à direita viradas a dormir. Eis que surge ante mim, sentado fetal, um som minguante.
Silêncio e o eco. Sente-se no espaço o ruído dos estores. O som extingue-se por fim.
Rapariga de rabo de cavalo e ténis verdes da manhã. Palco de céu azul. É o entra e sai do bater de portas.
Clara, a loira de meia idade é cor de rosa. De costas, vem-lhe o espírito circundado em luz branca intermitente.
Discussão ao vento e loiças partidas. Fixas foram as tabuletas. Há o descampado adjacente e luzes nervosas nele.
Sinais de ocultos fugazes no interior das árvores escuras e as indecifráveis músicas ao longe.
Parcialmente pensativo, o homem suspende o movimento.
O animal alça a perna às folhas secas. O sol está quente.
Excesso de luz escondida e parada.
Filipa Rocha a partir de Frederico Pratas:
É muito agradável, sente-se espaço
Estores são puxado para cima
Silêncio de novo
Sabe bem respirar de manhã
Céu como um teatro
As portas batem
Um palavrão ressoa
Luzes estremas brilham
Estores abrem-se
Pano de fundo de silêncio
O sol está quente
Sandra Chaves Costa a partir de Frederico Pratas:
Irreal
Estou de capuz sentado,
Enquanto escrevo apoiado no braço direito.
O comboio ladeia a linha, oiço-o cada vez mais.
E há aves que não são pombos.
Um avião extinguiu-se por fim,
Os barulhos realçam o silêncio e sente-se o espaço.
Um rapariga faz jogging montada num cavalo cor de rosa.
Sabe bem!
O céu tem uma cortina de chumbo,
E a calçada portuguesa recolheu-se como todos nós.
Ao fundo, uma luz branca pisca.
Fugazmente, desaparece no espaço.
Alguém entra e as portas batem.
Palavrão, discussão, emoji com expressão de espanto!
Luzes trémulas e nervosas, talvez influenciadas pelo irreal!
Sinais inequívocos de vidas no interior das casas.
Uma sombra anda em círculos pensativos,
Como se uma interrogação fosse.
Segue o seu caminho!
E as nuvens escondem-se em outras paragens.
Sofia Campliho a partir de Frederico Pratas:
Sentado ao longo do mesmo comboio.
Semi encoberto desaparece, não os oiço.
Realçam o silêncio do cão que ladra.
Puxados para cima, uma rapariga e o seu cavalo, cheiram a manhã.
Teatro de céu azul.
Batem na calçada branca, como todos nós, ao fundo.
Pisca desmaiado, mas desaparece no espaço agudo que sopra.
Descampado que vibra e que se abre a sinais fugazes que se conseguem distinguir rapidamente sobre o silêncio suspenso.
Folhas secas com excesso de luz.
Susana Ayres a partir de Ferederico Pratas:
Capuz
O feto sentado a escrever
Apoia-se, e adormece.
Cada vez mais os minguantes pardais
se chegam.
Ouve-se pela cidade
contra o silêncio
um som baixo, um som verde
no branco intermitente
dos espaços.
O palavrão agudo sopra,
perdido e fixo em tabuletas nervosas
As luzes abrem-se no igualmente
branco Longe,
e sabemos o que vai acontecer.
Em frente, está o indecifrável,
o pensativo, suspenso na idade meia:
azul e curta.
Alçando a perna, desaparece
por entre os excessos
das nuvens.
Flávia Germano Barra a partir de Frederico Pratas:
Deitado no braço e entre os comboios um homem encoberto é desaparecido já.
Os barulhos da cidade dão o espaço e a subida dos estores são um vestido de alface fresca e chumbo no palco. Planas portas batem na rua vestida de capuz, a pensar o espirito, num parque de estacionamento desmaiada a motoneta da esquina. Palavrões de cor cinzenta ao telefone e loiças com inscrições pretas. O comboio ainda, nervoso dá sinais ocultos do interior a pedalar para fora e de boné. Pensativo, interroga a parede de blusão azul-alçado e folhas secas. Nuvens paradas.
Ana Natividade a partir de Frederico Pratas:
um homem de capuz
deita-se para dormir
o comboio aproxima-se
as catenárias a linha o som minguante
um cão muito agradável ladra
à minha direita
estores rapariga avião
chove, chumbo, céu azul,
pequenos pássaros,
alguém entra ou sai,
o asfalto branco,
o prédio rosa,
uma luz branca faísca desmaiada
o som desaparece no espaço
nas catenárias
nas tabuletas brancas
há vidas ocultas nos estores
vozes no silêncio descampado
um homem parcial na esquina rosa
João Simões a partir de Frederico Pratas:
um homem entra as árvores
em posição fetal dormia
pequenos seres realçam a rua
um cão
uma rapariga fazendo jogging veste leguins de teatro
do outro lado uma luz pisca
tom agudo de telefone e louças
estores desenham vidas ocultas e azuis
há um pano de fundo nas sombras do seu quintal
esquina rosa azul intenso
Eugénia Mendes a partir de Frederico Pratas:
Entre árvores
Um homem sentado
Em posição fetal
Dorme
O comboio aproxima-se
O muro ladeia a linha
Pássaros nas árvores
Não as vejo
Não as ouço
Alguém entra
As portas batem
Uma voz jovem
Luzes brilham nos telhados
Sinais de vidas interiores
Sombras seguem o seu caminho
Faz bem cheirar a manhã
Valentina Arvela a partir de Frederico Pratas:
Homem de capuz.
Enquanto escrevo em posição fetal o comboio surge semi encoberto pela linha.
Não as ouço, é muito agradável. Os sons algures, ruídos puxados para cima, silêncio de novo.
Ténis verdes com rabo de cavalo.
O céu revelando um palco em baixo, termina à direita do prédio rosa intermitente.
Um palavrão agudo ao telefone, ouço no espaço.
Passa fugaz, rapidamente, voz com música.
Ao longe, detrás de um muro cansativo, tal vez de preto, o animal de folhas secas.
O sol alto, as nuvens escondem-se.
Isabel Bento a partir de Frederico Pratas:
Um homem de capuz deita-se no banco e o comboio aproximasse e num instante desaparece
Tal como o som, o silêncio de fundo da cidade extingue-se por fim
Chove, oiço os pequenos pássaros e as portas dos carros baterem
Uma loira refugiasse num prédio cor de rosa
Ao longe a figura de um homem contempla a parede como se interrogação vazia fosse
As nuvens escondem-se em outras paragens, excesso de luz
Francisca Carvalho a partir de Teresa Carepo:
Ar frio nas mãos
cara narinas
Canto o frio aos pássaros naturais.
As costas em bolha protegidas – homem em fato espacial.
Espaço intermédio
Nove graus
árvores estáticas contrastantes.
Muito sol.
Árvores a rebentar – sinto o sol.
A brisa não toca e sinto o sol.
Pessoas que por necessidade andam, missionárias.
Cores brilhantes
Verdes campos em luz clara.
Contrastante chapa – ao som e ao sol,
estática.
Filipa Rocha a partir de Teresa Carepo:
Som, ar, sol
Clareza
Cores brilhantes e sombras escuras
Barulho dos pássaros
Homem versus natureza
Sandra Chaves Costa a partir de Teresa Carepo:
Espécie de irmãos
Todos sabemos que a vida é muito curta,
Sempre o soubemos!
Somos uma espécie de irmãos que não passam pelas palavras.
Não falam por palavras, mas por obras,
Que se comunicam entre elas.
O que se faz passar para a obra provém do olho e dirige-se ao olho!
Num discurso em organização,
Num elogio ao defunto.
Ideias e expressões raras.
Flávia Germano Barra a partir de Teresa Carepo:
O som do ar frio passa e aquece a parte do corpo na parte de fora do corpo.
A mão intermédia gela e contrasta em amplitude, clareza e vincos.
Susana Ayres a partir de Treresa Carepo:
Versus
Tenho frio, imenso frio, invade-me as narinas
desagradáveis.
Esta dor estática
contrasta com o sol,
instável: rebenta a brisa onde o calor nos
evita.
Por fim estou sozinha no corpo
e quente.
Ritmo nos vincos do contraste.
Sofia Campilho a partir de Teresa Carepo:
Barulhos desagradáveis, da mesma natureza, da parte das costas.
Na entrada da normalidade, começa a doer, estática.
Começa a rebentar a brisa que corre, demasiado quente.
Missão, quando a realidade tem mais amplitude e contrasta com o Homem.
Ana Natividade a partir de Teresa Carepo:
a bolha
o ar passa nas mãos na cara nas narinas
o barulho interrompe o corpo
fato espacial no espaço intermédio
a mão gela
começa a doer
a brisa não toca o sol demasiado quente
andam por necessidade
as cores mais brilhantes
as sombras mais escuras
Rosa Baptista a partir de Teresa Carepo:
Ar frio nas mãos
Interrompe sons desagradáveis.
Parte do corpo está quente… vozes espaciais?
No espaço, a mão de fora.
Estáticas, zero graus.
Corre, toca, sinto
Numa missão as sombras a bater
Vincadas
teresa , teresa , teresa , teresa , teresa , teresa, teresa, teresa, teresa….
João Simões a partir de Teresa Carepo:
ar frio
solidão fria da rua
fato espacial à entrada do lugar intermédio
as árvores estáticas a rebentarem na temperatura
do sol verde claro da manhã
também aqui está o homem versus a natureza
Eugénia Mendes a partir de Teresa Carepo:
O ar frio
Carros fazem barulhos desagradáveis
Os pássaros cantam
Fria solidão
Um homem está na rua
No espaço intermédio
Vozes de pessoas
Árvores paradas
A brisa corre mas não toca
Valentina Arvela a partir de Teresa Carepo:
Nas maus contrastam, mesma natureza quente.
As costas na bolha.
Homem de fato espacial, a mão da fora no telemóvel, estática.
O tempo quente, uma bicicleta que corre quente por necessidade.
Calor, toda a realidade tem mais amplitude, barulho dos pássaros vincados vs natureza.
Isabel Bento a partir de Teresa Carepo:
O canto das árvores é da mesma natureza do ar frio
As vozes das pessoas lembram a normalidade
As árvores estáticas contrastam com o movimento dos carros
Calor, Sol, toda a realidade material é mais contrastante.
Homem versus natureza
Vicente Leite de Castro
Francisca Carvalho a partir de André Almeida e Sousa:
Janela a norte
Prédios parqueados,
gatil de luxo:
prazeres do sul.
Ao longe a agronomia do sol
É bonito com as coisas belas.
A luz muda a bolha do parque.
Turistas e putos. Ganzas.
Ciprestes em miniatura: tempo e disposição.
Branco é a cor do agora.
Pingos de água revestem a mota.
Não há gotas nem Mickey.
Nespereira de frutos
Vozes indistintas.
Sofia Campilho a partir de André Almeida e Sousa:
Tarde, virada a norte, terreno baldio com requintes de luxo do vale de Alcântara.
Coisas belas diariamente.
A luz muda e todos os dias vem ao parque.
Chove e fica escuro, o branco habitual, são as cores agora.
Música involuntária aparecendo e desaparecendo.
Não há sinal de gatos, neste momento… umas vozes indistintas.
Isabel Bento a partir de André Almeida e Sousa:
Janela virada a norte, terreno baldio
Cemitério dos prazeres, onde o sol se põe
Belos, bonitos, não conheço
Chave, ciprestes, jazigos, muda o tempo, confinamento
Branco, cinzento, verde-escuro, mini circulo
Desenho o Mickey, gatos não existem
Os prédios desaparecem na continuação do cemitério
Rosa Baptista a partir de André Almeida e Sousa:
Parqueamento baldio, hotel de luxo, prazeres
Agronomia, sol
Fotografo bonito (surpreende-me)
Sempre turistas
Chove ciprestes, jazigos, ferrugem
Tempo e disposição / branco e verde
Música dentro da cabeça:
Mickey, gatos, chuva não;
Frutos, roupa a secar, pássaros…
Prevalece.
Federico Castoldi a partir de André Almeida e Sousa:
Nord apperchiamento, pracer dos dias especial.
Paesaggio luz mudar no parco.
Fumando chuvia cuidad exposição. Interior verde, roupa.
Agua município agua otra vez, disaparecido.
Agora lembrar u ritmo della chuvia.
Maria José Meneses a partir de André Almeida e Sousa:
Tarde
Virada a norte
Terreno baldio
Cemitério
Sol se põe todos os dias
Resume o dia
Conheço cada canto
Luz muda
Embasbacados
Ganzas
Chove
Ciprestes
Jazigos cidade coisa interior
Barulho da chuva música involuntária
Poças de água
Mickey
Turistas
Nespereira
Vazio
Roupa a secar ao ritmo da chuva
João Simões a partir de André Almeida e Sousa:
Janela a norte
o pôr do sol fotografado só porque é bonito
ciprestes verde escuros com chuva, branco, cinzento, verde
escuro
mini círculos nas poças de água
nespereira florida
vozes indistintas
Francisca Sampayo a partir de André Almeida e Sousa:
Janela a Norte
Numa janela virada a norte
prédios, terreno baldio, gatil de luxo
Cemitério dos prazeres
ao fundo, Vale de Alcântara, céu de sol sobre Agronomia
a luz muda constantemente
e uma bolha no parque cheio de turistas, putos, ganzas
Chove, cipreste mais escuros, muda o tempo, muda a disposição
branco, cinzento, azul escuro
poças de água no parqueamento
capa reveste mota lembra rato mickey
não há turistas, nem putos, nem ganzas
ritmo da chuva que prevalece
Eugénia Mendes a partir de André Almeida e Sousa:
Janela virada a norte
Terreno baldio
Prazeres do sul
Cemitério ao sol
A luz muda constantemente
Mota lembra rato Mickey
Tudo vazio e desabitado
O barulho da chuva cai
Valentina Arvela a partir de André Almeida e Sousa:
Onde o sol se põe todos os dias, a luz muda todo o tempo.
Chove e os ciprestes ficam mais verde escuro.
Destinos agora.
Fios de roupa vazios.
Poças de água com círculos de gotas dos pingos.
Flávia Germano Barra a partir de André Almeida e Sousa:
A Janela do Norte com os prazeres ao sol, do sul, da paisagem surpresa.
Uma bolha de liceu – música a chover sobre os jazigos sem disposição a branco e cinzento.
Um carro vazio nos espelhos pingados na pedra. As orelhas do rato Mickey e a doçura das nêsperas e dos pássaros desabitados a prevalecer.
Vicente Leite de Castro
Francisca Carvalho a partir de Carlos Almeida:
Um melro cruza o espaço.
Adoro e falo com criaturas maravilhosas.
Alta tensão no telhado
e a linha do horizonte sorri.
Moscas caminham no vidro que permanece,
Fruta apodrece no relógio.
Os reflexos incomodam-me no poste do vislumbre.
Olho o troço, para que aconteça.
(recorte do pilar e a luz de chapa)
Nada acontece.
Limões vizinhos,
Mola branca e corda velha,
a romper-se – que segura!
Casas dinâmicas por breves instantes.
Ana Natividade a partir de Carlos Almeida:
um melro
adoro melros.
criaturas negras e azuis
molas de alta tensão na linha do horizonte
uma mota mosca caminha no vidro
uma fruta apodrece no relógio
troço de algo que acontece
um pilar no muro branco tela
nada acontece no vazio
Teresa Carepo a partir de Carlos Almeida:
Fim
A mota percorre a linha do horizonte
Procuro uma referência em busca de algo que aconteça
Uma peça de fruta a apodrecer na cozinha
O resto parece apagar-se
Como numa escultura
Imagem estática que se torna dinâmica por breves instantes
Um não lugar
Sofia Campilho a partir de Carlos Almeida:
À janela, o melro cruza o espaço.
O céu está negro e assenta mesmo à minha frente.
As moscas caminham no vidro a apodrecer na cozinha.
Sobrepõem-se o troço da estrada em busca de algo… só agora reparei, faz lembrar uma tela que termina no muro.
Nada acontece.
Azul e branco mesmo à minha frente, improvisada, mais atrás, que consigo vislumbrar um conjunto de imagem estática por alguns instantes.
Isabel Bento a partir de Carlos Almeida:
Na janela para a varanda um melro
Adoro-os, porque são maravilhosos
Parece a linha do horizonte
Poste de alta tensão
Várias moscas muito pequeninas caminhando no vidro
Pilar do muro com superfície branca é a minha referência
Rosa Baptista a partir de Carlos Almeida:
Janela, varanda, melro
Falo: Serem maravilhosas!
Nego: Alta tensão, em frente!
Faz-me sorrir.
Mota vai,
Moscas permanecem,
Fruta apodrece.
O relógio apetecia reflexos,
Poste deste deslumbre,
O resto apaga-se…
Criou Branca e Branco, todo e nada,
Vazia.
É meio dia e dezassete.
Um quintal à minha frente quase a romper-se…
Amarelo estrada. Atenção!
Pássaros
Casas
Instantes
Federico Castoldi a partir de Carlos Almeida:
A janela do melro, maravilhosa.
Azul, tensão, perfeição: sorrir en frente.
Olho en fin para ti, que coisa estrana.
Uma superfície branca, quasi scultura.
Corda velha. Amarelo, conjunto de Casas.
Maria José Meneses a partir de Carlos Almeida:
Janela
Melro
Espaço
Falo com eles
Maravilhosas
Negro e azul
Alta tensão
Linha do horizonte
Sorrir
Mota vai ao Lidl
Vidro à frente
Peça de fruta
Tempo fim
Reflexos
Troço de estrada
Vislumbro algo que acontece
Recorte escultórico
Chapa de luz
Branco
Muro espaço
Não lugar
Vazio angustiante
Corda velha
Pássaros
Dinâmica
Breves instantes
João Simões a partir de Carlos Almeida:
à janela,
um melro cruza o céu,
falo com eles coisas maravilhosas
vejo
o poste suspendendo a linha no horizonte
a estrada que conduz ao Lidl
à beira da estrada rondam
várias moscas
na fruta a apodrecer
continuo,
detrás dos reflexos
a estrada é a referência que se apaga
uma chapa de luz
tela branca, parece uma escultura vazia
céu maravilhoso com limões a romper-se num plano mais atrás
a estrada grita estática e dinâmica
Francisca Sampayo a partir de Carlos Almeida:
Um não lugar
Janela da varanda, oiço melros! Adoro melros! Falo com eles! Maravilhoso!
Céu negro e azul
Poste de alta tensão cruza o horizonte a sorrir
Mota vai ao Lidl
Peça fruta a apodrecer na cozinha
Reflexos
Poste troço de estrada
recorte escultórico no muro
luz de chapa
tela, pilar branco
Um não lugar, onde nada acontece, um vazio
Céu azul e branco
Limões do vizinho verde e amarelo
Corda velha com mola
Imagem de janela dinâmica
Eugénia Mendes a partir de Carlos Almeida:
Janela na varanda
Adoro melros e falo com eles
O céu está negro e azul
Parece a linha do horizonte
Moscas caminham no vidro
O tempo está a acabar
Recebi de chapa a luz
Parece uma escultura
Azul, branco, verde e amarelo
Por breves instantes
Valentina Arvela a partir de Carlos Almeida:
O espaço à frente absoluto maravilhoso, a linha do horizonte faz-me sorrir provavelmente permanece a minha frente na cozinha.
Afasta-me dele, desta janela, em busca de algo, agora reparei, uma tela, parece uma escultura, o vazio é angustiante.
Limões. Muito tempo a segurar a mola verde amarela.
Um conjunto de casas e pássaros a tornarem-se dinâmicos.
Flávia Germano Barra a partir de Carlos Almeida:
O melro cruzado falava à varanda maravilhosa. A alta tensão do telhado à minha frente é uma estrada de moscas na fruta apodrecida. A contínua reflexão do poste indistinto e de troço apagado – uma chapa de luz – um murro branco.
nada acontece da angústia vazia do céu azul. Uma mola e uma corda seguram os limões na estrada e as casa um conjunto por um instante.
Vicente Leite de Castro
Francisca Carvalho a partir de Federico Castoldi:
Onze e dez
Janela fechada,
barulho e sombra
o asfalto.
Uma barra de metal
participa verde ao longo da língua.
Grafitti negro
e um último fio vermelho maior
pendurado.
Vozes Portuguesas soam
à esquerda.
A tua aura longínqua,
uma espiral pungente nessa pedra.
Uma sombra sobre o carro.
Letras verdes
uma vez em mármore, novamente
interceptadas.
Na porta verde,
o grafitti verde.
Um vento passa doce,
leve.
Ana Natividade a partir de Federico Castoldi:
odore aura
rumore d’aria
voce di machine intense
machia che cresce
la finestra in lontananza
l’ombra e l’asfalto
rumore d’imondizie
nel angulo, il metallo,
un cartello
l’alarme nero
Teresa Carepo a partir de Federico Castoldi:
Um grafito de cimento e ferro…
Numa aura quase insuportável,
Surge uma escrita verde,
Intensa
Um rumor de uma máquina,
Doce e leve
Sofia Campilho a partir de Federico Castoldi:
Edifício, asfalto, verde alarme ligado. Rumor, que grosso que pende. Portuguesa em qualquer parte, quase sinistra. Na tua aura insuportável. Intenso e contínuo rumor, marca branca. Escrita verde. Gasóleo e benzina.
Isabel Bento a partir de Federico Castoldi:
Da janela
Duas máquinas, uma barra de metal e um alarme ligado
Um graffiti negro de uma voz portuguesa e o rumor de uma máquina
Rosa Baptista a partir de Federico Castoldi:
Devidamente ângulo verde.
Dichi
Castelo, Grafitti…
Portuguesa sinistra, insuportável.
Intenso, continuo a respirar:
5, 7, verde.
Pedra sustem muro,
Um homem estranho, verde, ilustrado de mármore,
Uma porta verde, rumor da Vita, dolche
Odor a gasóleo
TUTU!
Maria José Meneses a partir de Federico Castoldi:
Segunda-feira
11;30
Janela fechada
Sombra no asfalto
Barra de metal
Alarme ligado
Rumores
Fechados no meio do muro
Voz portuguesa sinistra
Longínqua vizinha
Qualquer parte
Pungente intenso e continuo
7 pedras paletas de ferro
Sustêm o muro
Muros brancos escritos
Verde fio que pende na porta verde
Vento doce e leve
Gasóleo gasoline
João Simões a partir de Federico Castoldi:
l’ombra e l’asfalto
alarme un cartello
mezo el muro
qualquer parte sinistra
la tua aura motorino bianco
grosso grafiti verde que se vá
gasóleo, benzina, claxon, bye bye
Francisca Sampayo a partir de Federico Castoldi:
Rumores
Segunda 11h30
a janela fechada, olho o asfalto
barra de metal
alarme ligado
rumor
grafite negro no muro
Voz portuguesa sopra sinistra
a tua aura longe
rumor de máquina, intenso continuo rumor
muro de pedra
branco, verde, grosso, grafite verde
vento doce e leve
máquina, gasóleo, benzina, clac som, tutu
Eugénia Mendes a partir de Federico Castoldi:
A janela fechada
Duas máquinas sobre uma barra de metal
Alarme ligado
Rumores
Grafitti verde
Um vento doce e leve
Um som de máquina
Grafitti negro
Uma voz portuguesa à esquerda
O muro
Valentina Arvela a partir de Federico Castoldi:
La finestra.
Una barra de metallo, un cartello dice allarme legato, rumore d’immondizie.
Un cartello, un grafito nero, un altro sinistra, una alta voce.
Rumore intenso, continuo rumore.
Bianca, rettangolare, verde, pietra de ferro.
Cimento, un cartello verde, lustrato cimento.
Tanti alti il filo che pende di la porta.
Il rumore della macchina dolce.
Flávia Germano Barra a partir de Federico Castoldi:
Rumores do edifício e do alcatrão – alarmes ligados e ainda rumores mais grossos e dependurados. Encerrado, o lado esquerdo da aura é uma máquina de outro rumores sem palavras, nem verde, nem pedra, nem ferro. Só gasóleo e benzina.
Vicente Saraiva
Francisca Carvalho a partir de Flávia Germano Barra:
Quintais oblíquos
O vento sombra da planta
Uma raíz franja
O sol e a pedra aquecem na varanda e a salvo.
Pés sem mercúrio
O meu fumo
Uma mulher ao sol
e a invenção do cordão.
Árvore em pêlo arrancada ao rizoma.
Nuvens e maçãs na tua cabeça.
Pestanas em anzóis
o tridente no chão.
Um galo
Uma seta
Um cubo de guardar a sede.
Comer laranja, escrever, adivinhar
Tinta como crosta.
Todos os nós agarram três braços.
Ana Natividade a partir de Flávia Germano Barra:
a fuga de um cão ao sol
com uma maçã e três nuvens
nos olhos daninhos
Teresa Carepo a partir de Flávia Germano Barra:
Chamamento
no reservatório de água surge um peixe,
Uma concha útero
definição de um ventre com 3 braços e 1 embrião
dependurada pela raiz,
de pés suspensos no cordão
mergulho na sombra e na luz
Sofia Campilho a partir de Flávia Germano Barra:
Corte de unhas de raposa,
jacintos com pestanas e
um cubo com quatro pés e
presságio de um galo que
não se vê, mas sabe.
Guardar pássaros, pingo como crosta.
O círculo é o varandim, olhos como caminhantes oblíquos.
Isabel Bento a partir de Flávia Germano Barra:
O vento agita a sombra salva do pé de pisar
Uma mulher ao sol à sombra do seu ventre
Uma maçã mergulha desmaiada
Laranjas e camélias, ervas daninhas e urtigas
Secas, pasmadas e obliquas
Rosa Baptista a partir de Flávia Germano Barra:
Arroto ensolarado engravatado
Três virilhas a vazar aos mergulhos no areal
Cubo naquela seta que sabe:
Comer pássaros, adivinhar.
Escorre os brancos do útero lá dentro,
Umbigos de verde molhado,
Secos e oblíquos.
Federico Castoldi a partir de Flávia Germano Barra:
Una mulher ao sol
O corpo de uma manzana,
Um tridente no corpo.
Ruge com o tempo.
Olhas! Embriões oblíquos.
Maria José Meneses a partir de Flávia Germano Barra:
Vento sombra luz
Planta raíz dependurada
Prece à sombra da varanda elevada
Pés descalços sem mercúrio
Aroma do caldo
Última definição do ventre no areal
O rizoma ensolarado
Três pauzinhos jacintos em tridente
Quatro pés presságios do vento
Cubo dos quintais a guardar pássaros
Pingo de ferro no tempo da ferrugem
A boca e a erva folhas umbigos
Pincéis pousados e oblíquos
João Simões a partir de Flávia Germano Barra:
Raíz franja, uma prece
pedra deitada na loja
pés descalços, música fuga
de uma mulher ao sol
uma árvore, rizoma engravatado
gesto três pauzinhos soprado ao chão
água que sabe a laranja e camélias
um pingo de círculo em duas trompas
cresce em umbigos os pincéis pasmados
Francisca Sampayo a partir de Flávia Germano Barra:
Presságio de vento
O vento agita a sombra
planta pendurada pela raiz na varanda
Pés descalços, sem mercúrio
A fuga de um cão
Aroma de um caldo de mulher
Corte de unhas de raposa
Jacintos e mergulhos de peixes
Presságios de vento que não se vê
cresce daninha aquela erva nos quintais… urtigas
pincéis secos, oblíquos
Eugénia Mendes a partir de Flávia Germano Barra:
O vento agita a sombra
Dependurado numa prece
A pedra deitada na varanda
Os pássaros, a música por dentro de tudo
Uma mulher ao sol
Um ventre
Uma maçã
Nuvens em forma de raposa
Mergulhos de peixes
Quatro pés como pilares
É útero o varandim
Com minha boca lá dentro
Valentina Arvela a partir de Flávia Germano Barra:
O vento agita a última definição, um terço.
A pedra deitada, a salva do chão descalço.
O chamamento, o meu fumo, a minha fome.
Volta a sombra como um pelo, um corte de unhas.
Três pauzinhos, mergulhos de peixe, um cubo, presságios do vento que não se vê.
Lençóis, desenho, tinta como tempo, como útero, como embriões secos, pasmados e oblíquos.
Vicente Saraiva
Francisca Carvalho a partir de Maria José Meneses:
Estacionamento
Passam dois homens à esquina das janelas comportadas.
Mulheres com máscaras passam devagar. Estacionam novamente.
A rapariga de plástico no saco azul do homem.
A rapariga do saco voltou, confiante que vai morrer.
Ana Natividade a partir de Maria José Meneses:
manhã do primeiro dia
azulão preto vidrão verde mota
tap tap tap
mulheres passam devagar
entre carros
entre luzes brancas de presença
zum zum zum
um carro outro carro outro carro
um saco outro saco a rapariga do saco
a maior parte vai morrer
Sofia Campilho a partir de Maria José Meneses:
Azulão todo preto que faz esquina. Ponto da situação ainda existe. Mulheres normalmente devagar.
Luzes acesas dentro da luz de presença. Passeio do meio faz lugares vagos.
Saco branco cheio que cresce dia a dia. Preto.
A rapariga do saco.
Voz calma a maior parte.
Isabel Bento a partir de Maria José Meneses:
O avião levantou vôo e os carros passam sobre as luzes da rua acesas
Não passa ninguém
Árvores no passeio, as folhas das árvores crescem dia a dia
A maior parte vai morrer
Rosa Baptista a partir de Maria José Meneses:
Vejo homens de azulão na esquina,
As portadas abertas,
A ministra levanta voo, TAP, TRATE, máscaras (devagar)
As luzes acesas, as cadeiras empilhadas junto à caixa.
Vagos…
Ninguém!
Rapariga de branco vestiu o saco ao telefone,
Com calma e confiança, parte para viver.
Federico Castoldi a partir de Maria José Meneses:
Não passa ninguém.
A janela está aberta.
João Simões a partir de Maria José Meneses:
café 2 homens, terceiro carro
luzes acesas dentro do café
árvores no vidrão, ninguém, uma
rapariga cresce dia-a-dia
vem aí ao telefone a morrer
Eugénia Mendes a partir de Maria José Meneses:
Dois homens na esquina
Ainda existe a TAP
Mulheres com máscara
Devagar
Luz de presença nas janelas abertas
Não passa ninguém
No café fechado
Notícias com voz
Calma
Valentina Arvela a partir de Maria José Meneses:
Dois homens à esquina, luzes dentro do café, passeio branco.
A rapariga de plástico no saco.
Uma rapariga vai morrer.
Flávia Germano Barra a partir de Maria José Meneses:
O café vestido de preto – aberto o carro – voado o avião – Máscaras conversam com as luzes brancas e apagam as cadeiras sentadas. ZUUUUM – O azul encobre a pessoa dentro de um saco.
João Simões a partir de Maria José Meneses:
café 2 homens, terceiro carro
luzes acesas dentro do café
e do carro que desbobina
notícias obscenas
sobre uma epidemia
árvores no vidrão ninguém as vê?
uma
rapariga cresce dia-a-dia
vem aí ao telefone
para morrer
Vicente Saraiva
Francisca Carvalho a partir de João Simões:
Canto
O apartamento tem luz em todas as janelas.
Pessoas que imergem dos mundos,
E o repouso de três delas.
A varanda do primeiro andar
E o vizinho das manhãs.
O sossego e Agostinho a dizer-nos que paremos por um ano.
Deus fecha a porta.
A janela da paz que dá para a rua de seiva abre-se
no meu sistema nervoso.
Ana Natividade a partir de João Simões:
com olhos no canto
três pessoas procuram duas orelhas de lã
os braços conversam
e a janela em frente está ali desde manhã
Teresa Carepo a partir de João Simões:
A rua….
A rua descansa silenciosa
Luz em todas as janelas
Olhos de pessoas imersas nos seus mundos de escuridão
Silencio da rua vazia
para se encontrar a si própria
Sofia Campilho a partir de João Simões:
Mesmo em frente tem luz.
Do canto não existem os seus mundos.
Repouso de três pessoas.
Tricotadas pelo silêncio de quem procuravam.
Entrelaçado de frente, descansa, estacionado.
Encontrarem a si mais longe, cheio de paz.
Isabel Bento a partir de João Simões:
Há luz em todas as janelas
Parece um filme em que as janelas são olhos
Três pessoas na rua conversam descontraídas debaixo de ramos entrelaçados
A luz silenciosa dos candeeiros
O mundo inteiro para cheio de paz
Gosto, terra céu, céu terra
Rosa Baptista a partir de João Simões:
Andar na luz do filme
Olham no olho das pessoas imersas
Mundo da escuridão faz bem.
Procurar alguém, bolas vazias
Procuravam o primeiro
Há Beleza na janela
Desde manhã, parece alaranjada, lado a lado
Nenhum português.
A si não são só,
Mundo abre:
Paz, a rua, sistema, terra…
Federico Castoldi a partir de João Simões:
Cada vez é um teletrabalho.
Ninguém
Durante um ano.
Maria José Meneses a partir de João Simões:
Como num filme as pessoas olham pelo canto do olho
São olhos as pessoas
Quando daqui saio, escuridão e silêncio
Três pessoas procuram alguém é uma rapariga com gorro de lã
Na janela frente ao computador o teletrabalho à luz doa candeeiros
Ninguém. Gosto deste sossego
Agostinho da Silva
A realidade vai sempre mais longe
Quando Deus fecha uma porta abre uma janela
Terra e céu
Francisca Sampayo a partir de João Simões:
Silêncio
Apartamento, janelas do quarto andar
com luz, parece um filme
do canto do olho, olho para a rua
escuridão, silêncio, em repouso
Três pessoas na rua
rapariga com gorro em bolas de tricot
silêncio, rua vazia
o entrelaçar de ramos nas árvores
o vizinho da janela da frente teletrabalha
Candeeiros cor-de-laranja, a rua descansa
Agostinho da Silva manda parar os carros
Deus, Paz, rua, árvores, terra, céu, céu terra.
Eugénia Mendes a partir de João Simões:
Luz em todas as janelas
São os olhos das pessoas
O meu é o da escuridão e do silêncio
Casal no silêncio da rua
Beleza nos braços do vizinho em teletrabalho
Mota e bicicleta sem ninguém
Agostinho manda parar
E encontrar-se a si próprio
Céu
Terra
Paz
Valentina Arvela a partir de João Simões:
Em frente, no quarto andar, em todas as janelas, como no canto do olho das pessoas.
Mundo da escuridão e o silêncio.
Gorducho em forma de bola tricotada.
Conversam descontraídas ramas no computador.
A luz estacionada, nenhum sossego.
Parassem a si próprios o mundo inteiro.
Fecha a porta cheia de paz no meu sistema nervoso.
Céu, Terra.
Flávia Germano Barra a partir de João Simões
A quarta janela é indiscreta como o canto de um olho. Em silêncio escuro, três vezes engordada a bola sem jogo e só conversa. Talvez sossego, talvez realidade, talvez Agostinho, numa só rua, pouco nervosa a Terra.
Vicente Leite de Castro